quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Gigantes de alta tensão:



 Quando pensamos que está já tudo inventado neste mundo globalizado em que vivemos, que inovar é apenas criar do zero, de quando em vez, eis que surge um projecto assoberbante, de uma simplicidade singular, que prova o quanto erramos... Este vem pela mão da firma Choi+Shine Architects. Da América para a terra do vulcão Eyjafjallajökull: The Land Of Giants, Terra de Gigantes.

Landsnet é o nome da empresa pública que detém e gere o sistema eléctrico na Islândia, onde, a título de curiosidade, cerca de 80% da energia eléctrica vem de fontes renováveis e sustentáveis, como é o caso da energia geotérmica. Em 2008, esta empresa, em parceria com a Associação dos Arquitectos Islandeses, lançou um concurso internacional com vista à modificação do design das torres e linhas de alta tensão que atravessam paisagens rurais e adentram áreas urbanas, infraestruturas estas que continuam a assegurar o transporte de energia eléctrica e a ter um forte impacto visual numa das mais belas paisagens do mundo.
Com a durabilidade, custo e, principalmente, o impacto visual e ambiental como mote, foi deixado ao critério dos concorrentes se o design se fundiria com o cenário envolvente ou se, de outra forma, as torres se destacariam como objectos. Foram submetidas verdadeiras obras de arte - não torres de alta tensão, mas belíssimas esculturas. Entre elas estava o projecto da firma americana Choi+Shine Architects, sedeada em Brookline, no Massachussets, e liderada pelos arquitectos Jin Choi e Thomas Shine.
The Land of Giants, como inusitadamente lhe chamaram, consiste na transformação das torres de alta tensão comuns em estátuas antropomórficas de 30 metros de altura, com apenas pequenas alterações à sua sólida estrutura base de aço. Cumprindo dois dos requisitos do concurso, os arquitectos fizeram uso de materiais essencialmente recicláveis, aço, betão e vidro, criando uma estrutura modular de baixo custo: "Apesar do elevado número de formas possíveis, a maior parte das peças são iguais, assim como as ligações entre elas. Este design permite muitas variações em forma e altura, enquanto o custo se mantém baixo dada a produção idêntica e em série, simples montagem e construção.", comentam.


Este todo em partes possibilita que cada figura tenha uma postura e expressão próprias. Assim, de acordo com as necessidades, cada uma pode ser configurada para responder de forma apropriada ao ambiente em que se insere, como explicam os responsáveis pelo projecto: "Quando as linhas eléctricas sobem um monte, as figuras mudam de postura, como se de uma pessoa em escalada se tratasse. (...) Além disso, alterações subtis na cabeça ou nas mãos, combinadas com o reposicionamento das principais partes do corpo, permitem obter uma rica variedade de expressões. As figuras podem ser emparelhadas, caminhando na mesma direcção ou em direcções opostas, olhando-se mutuamente...".


Apesar do seu magnífico trabalho, a Choi+Shine Architects não venceu o concurso lançado pela Landsnet, mas viu-o laureado com uma menção honrosa e pelo interesse da empresa em construir duas das versões das figuras, uma masculina e outra feminina, como monumentos funcionais às portas de Reykjavík, a capital e maior cidade da Islândia. Talvez pela dura crise económica que o país tem sofrido, a construção não aconteceu, ainda, como vinca a firma americana, expressando directamente a sua esperança de que se venham a erguer as duas figuras já enviadas à empresa energética.

Quer vejamos ou não estes gigantes, aparentemente errantes, vagueando pela paisagem desta ilha do norte da Europa, certo é que esta equipa de arquitectos conseguiu transformar mundanas instalações eléctricas em verdadeiras obras de arte, monumentos, ainda que virtuais, que continuam a ser premiados, como recentemente com o 2010 Boston Society of Architects Unbuilt Architecture Award. Que The Land of Giants / Terra de Gigantes, seja o primeiro de muitos sucessos para esta jovem e talentosa equipa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário